domingo, 19 de junho de 2011

Distanciamento



Era uma percepção distorcida da realidade.
Aquele silêncio de alcova não me deixava raciocinar.
Aquele calor macio dos lençóis a me envolver,
como um abraço lânguido,
retirava-me o foco daquele encontro.


As luzes entravam no quarto como que filtradas,
mas eu não enxergava tudo o que acontecia.
Era como um filme sépia a acontecer, lentamente.
Em cenas de amor que se repetiam, repetiam, repetiam...
Fazendo-me derreter em suas mãos, debaixo do seu corpo.


A cama era majestosa em seu ambiente de veludos e sedas.
Reinava, absoluta. Sem distrações.
E, eu não me conseguia classificar.
Estática e nua, sob os lençóis que a tantas acolheram,
mirando-me no espelho da minha consciência.
Solitária, com tantas promessas que quedaram vazias,
jogadas ao piso daquele ambiente privado,
em que não havia restrição.


Precisava, talvez, de distanciamento.
Sair daquele ambiente que a convidava de forma incessante.
Em seus segredos de chuva de final de tarde.
Diminuir sua imagem, ao longe...
Talvez, assim, pudesse se enxergar.
Afinal, quem era aquela que me olhava do espelho?
Talvez, assim, pudesse entender.
E, entender o outro. Seu outro. Seu?

"Nem todas as formas que não identificamos são abstração.
Às vezes, é só um detalhe ampliado" (Eduardo Carrera).


Naiana Carapeba (17/06/2011)

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