domingo, 11 de setembro de 2016

O incompetente motivado


Bater em retirada
Salvar vidas
Do fogo cruzado
Da intolerância 
Do ódio em marcha

Bater em retirada
Cessar fogo
Reconhecer a falha
Interromper o fracasso
Antes do último e derradeiro ato

Bater em retirada
Ter um visão real do real
Ter a mente ainda lúcida
A apoiar-se sobre fatos e não sobre devaneios
Porque é perigoso ter um incompetente motivado no comando deste barco...

Naiana Carapeba

(18/04/2016)

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Meu tatu



Eu sonhei você
A princípio, como miragem -
calada na rudez da minha realidade.

Eu sonhei você
Como raio de sol -
janela aberta aquecendo minha alma.

Eu sonhei você
Guerreiro de cachos dourados -
suas lutas imaginárias em batalhas sem fim.

Eu sonhei você...
E você veio.

Um príncipe em meu conto de fadas
Com brilho no olhar  
E meiguice no abraço.

Eu sonhei você...
E você veio.

Suas pequenas mãos me guiam
Por um jardim florido
De encantos e maravilhas.

Amo você, meu tatu.

Naiana Carapeba - mamãe
(30/07/2014)

domingo, 22 de maio de 2016

Mortalha



Andando em suas curvas, 
Sigo, sem equilíbrio, tropeçando a cada passo...
Nada há à minha frente.
Apenas um abismo a me chamar,
um eco a me repetir.

Meus olhos cegos fecham-se para tudo em volta.
Minhas mãos encolhidas.
Meus gritos mudos.

Suas mãos frias me guiam os passos,
sua voz surda me embala numa cantiga gótica.
Eu sigo em sua direção
e adentro sua catedral, em hipnótica adoração.

Lanço-me a seus pés
e você me acolhe em suas garras.
Seu bafo gélido cala meus soluços,
sua escuridão apaga meus pesadelos.
Você me envolve inteiramente em sua mortalha...
E eu fico quieta em seu abraço.


Naiana Carapeba
(22/05/2016)

segunda-feira, 7 de março de 2016

Monólogos


A cabeça pesava com tantos pensamentos que morriam dentro de si.
A língua, outrora afiada, amargava solidão e palavras engolidas.
Água. Água a se acumular dentro de si.
Sentia formar uma tempestade de sentimentos disformes.
Um turbilhão de atos contidos.

Em que momento aconteceu esta metamorfose?
Em que momento se transformara em atriz, presa a este monólogo mudo?
A vida cheia de automatismos.
A vida sem percussão.
A vida quieta num canto.
E o copo d'água sobre a mesa.

Naiana Carapeba
07 de março de 2016

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Cais


A neblina turva a visão que eu poderia ter da outra margem.
Abraço-me à minha solidão.
Paro em um cais que não leva a nenhum lugar:
apenas se posta diante de mim.
Imóvel. Inerte.
Pontes ceifadas que não servem para nenhuma finalidade. Nenhuma. Nenhuma.
As águas frias passam por mim,
num contínuo movimento que meus olhos não percebem.
Não sinto nada. Não sinto nada.

A minha tarde é repleta de solidão.
E de cais.

Naiana Carapeba
(19/01/2016)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Izaura


Irmãs de alma,
irmãs de calma.
Encontramo-nos nos primeiros degraus de nossa adultice.
Galgando espaço. 
Suando bicas.
Fez-me companhia na penúria.
Fez-se cobertura e proteção.
Ergueu-me acima de seus próprios ombros, 
para que eu pudesse mirar longe...

Irmãs de fúria,
irmãs de injúria.
Acolheu-me no desespero.
Ouviu meus suspiros.
E o meu cansaço.
Escutou absurdos, por mim...
Colocou-me no colo.
Deu-me silêncio.
Deu-me sermão.
Deu-se. A mim.

Irmãs de maternidade.
Cada uma a embalar seu rebento.
Juntas.
Equilibrou-me, em nossos tropeços.
Deu-me sorrisos.
Deu-me seus filhos, como meus.
E recebeu os meus, como seus.

Irmãs de mochila, nas costas.
Juntas andamos pelo mundo...
Nas fotos. Nos cartões postais.
Irmãs de sonho.
De um futuro sempre presente.
Irmãs de vida.

Naiana Carapeba
(13 de Janeiro de 2016)

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