domingo, 26 de junho de 2011

Travessuras da Menina Má



"Lily gostava de ir, todos os fins de tarde, a um canto do Parque Salazar fervilhante de palmeiras, copos-de-leite e campainhas, de cujo murinho de tijolos vermelhos contemplávamos toda a baía de Lima como o capitão de um navio contempla o mar na sua torre de comando. Quando o céu estava claro, e juro que nesse verão o céu ficou o tempo todo sem uma nuvem e o sol brilhou em Miraflores sem falhar um dia, divisava-se lá no fundo, nos limites do oceano, o disco vermelho, flamejante, despedindo-se com raios e fogos de artifício enquanto se afogava nas águas do Pacífico. O rostinho de Lily se concentrava com o mesmo fervor com que comungava na missa do meio-dia na igreja do Parque Central, a vista fixa naquela bola ígnea, esperando o instante em que o mar engolisse o último raio para formular o desejo que o astro, ou Deus, materializaria. Eu também pensava num desejo, acreditando mais ou menos que se tornaria realidade. Sempre o mesmo, é claro: que ela finalmente me aceitasse, que nós começássemos a namorar, a tirar sarro, e afinal nos apaixonássemos, ficássemos noivos, casássemos e fôssemos viver em Paris, ricos e felizes" (Mario Vargas Llosa).

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