terça-feira, 31 de maio de 2011

Criador e criatura



É necessário cautela com os desejos que se quer realizar,
Pois o universo capta todos os sinais
Que continuamente enviamos.
Ainda que de forma inconsciente...


É imperativo o cuidado com a fantasia,
Basta um estalo e, então, concretiza-se seu comando. Seu imperativo...
E o sonho tão sonhado, pode enfim virar realidade.
Mas a realidade, darling, não tem um gosto tão doce...


Desejos, então, viram rapidamente tormentos.
E, como tal, devem ser descartados.
Rapidamente. Sumariamente.


Incômodos, quem os cria?
Querida, por favor, não me crie problemas.
Por favor...


Naiana Carapeba (31/05/2011)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Impulsos



Ao desmaiar da tarde,
Cederam meus impulsos homicidas.
Toda a intensidade de um dia
Esvaiu-se com a dissolução do horizonte, em sua paleta rosada.


Resoluções e imperativos tão definitivos
Eram agora um nada.
Relativizaram-se, pois me pesara nos ombros a percepção de que nada poderia exigir
Se nada desse em troca.


Impulsos. Mulheres sempre os têm.
Difícil é saber o que esconde a alvorada seguinte -
Nascerá com a madrugada novo instinto assassino?
Será o crime imaginado, em algum momento, efetivamente interrompido? Consumado? Meramente tentado?


Matar ou morrer -
Só se for de amar...


Naiana Carapeba (30/05/2011)

Sabedoria feminina


"Às vezes eu tenho a sensação de que não conheço palavrões suficientes..."

(Nina Nery - 30/05/2011)

Da imbecilidade



Sabe quando tudo avisa que você está sendo imbecil?
A sua barriga em redemoinho -
Os pêlos da nuca que se arrepiam de terror das próprias reações irracionais?


Sinais, sinais, sinais de minha imbecilidade
Fervilhantes por todos os lados, em todos os lugares
Estourando como bolhas de champagne na minha cabeça...


É... Ultimamente todas as minhas referências envolvem bolhas, de algum modo.


Imbecil, imbecil, imbecil.
A vida me diz, incessantemente.
E não dá nem para sentir raiva.


Naiana Carapeba (30/05/2011)

domingo, 29 de maio de 2011

Soneto de Maio


Suavemente Maio se insinua
Por entre os véus de Abril, o mês cruel
E lava o ar de anil, alegra a rua
Alumbra os astros e aproxima o céu.

Até a lua, a casta e branca lua
Esquecido o pudor, baixa o dossel
E em seu leito de plumas fica nua
A destilar seu luminoso mel.

Raia a aurora tão tímida e tão fragil
Que através do seu corpo tranparente
Dir-se-ia poder-se ver o rosto

Carregado de inveja e de presságio
Dos irmãos Junho e Julho, friamente
Preparando as catástrofes de Agosto...

Vinícius de Moraes (Ouro Preto - maio de 1967 - Poesia Completa e Prosa - Livro de Sonetos)

Clarice Lispector


“Mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória de cada dia. 
Não temos amado, acima de todas as coisas. 
Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. 
Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. 
Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. 
Temos construído catedrais, e ficando do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. 
Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. 
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. 
Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. 
Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. 
Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. 
Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. 
Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. 
Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. 
Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos do que realmente importa. 
Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. 
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. 
Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fui tolo” e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. 
Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. 
Temos chamado de fraqueza a nossa candura. 
Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo.
E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.”

( Clarice Lispector - Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres.)

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Criança



O que eu quero é apreender cada pedaço, 
Cada detalhe seu - ainda que pequeno -
Pois sua história me é essencial.


Sinto como se, a cada segredo revelado,
Houvesse mais e mais laços a nos prender.
Apesar de invisíveis aos que estão à nossa volta...


E, então, uma ternura imensa cresce em mim,
Pois vejo seus olhos ainda carregados de um brilho infantil - 
De quem enxerga todos os caminhos que se apresentam à sua frente.
De quem acredita sinceramente na possibilidade de sucesso da própria história.


Ah! Criança... Você tem o mundo em suas mãos.
Faça-o girar!


Naiana Carapeba (27/05/2011)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Ei, você...



Pensamentos colocados em frases soltas...
Versos gritados aos quatro ventos,
Mas que gostaria de sussurrar aos seus ouvidos, apenas.


Ouça as estrofes que escolhi para você -
E perceba-as sutis, embora pichadas nas paredes.
Escuta-me.


Escuta-me nas canções que escolhi para você -
Porque estou em cada nota de seu balanço.
Perceba-me.


Pois em mim há um coro a entoar uma música incessante
Como o mar...
Em sua melodia estão todas as notas que aprendi no seu corpo -
Em doce encantamento. Fatal...


E em mim há um olhar que vaga à sua procura,
Na busca contínua de sinais de sua presença.
Para que se torne realidade, enfim...


Ei, você... Você está me ouvindo?


Naiana Carapeba (27/06/2011)

Quarter Horse



Menina, qual será seu verdadeiro amor?
Porque você se esconde, se nada há a prender você?
Afaste tantas indecisões rondando sua cabeça e maltratando tantos corações...


Menina, urge que você saiba o que procura efetivamente-
Pois todas as possibilidades estão à sua frente
E basta você se lançar de forma verdadeira a essa aventura...


As escolhas residem em suas mãos. Apenas em suas mãos.
É uma pena que você não veja.
... O pior cego é aquele que não quer ver...


Menina, eu queria ter o desapego que só se tem aos 20 anos.
Ter tanta leveza, frescor e imaturidade.
Ter todos os caminhos ainda a trilhar.
Menina, eu queria poder tanto quanto você...


Mas há coisas que só se aprende caminhando...
Há escolhas das quais só se percebe a importância com a virada de várias curvas na vida.


Menina, a sorte não passará à sua porta, montada em um Quarter Horse - indo e vindo, ao sabor de sua inconstância-
Como naquelas propagandas politicamente incorretas da década de 80...
É sorte quando acontece uma única vez.
E mais sorte ainda quando o príncipe encantado passeia à largo pelas pradarias. E sabe como ninguém como acender uma fogueira, ainda que no deserto...
... Ainda que na nevasca.


Cuidado apenas, para não o deixar acenando o chapéu para outras pequenas da platéia.
Elas podem enxergá-lo melhor que você.
Elas podem querê-lo mais do que você.
Elas podem amá-lo. 
De verdade.


É uma pena menina, que você ainda não saiba o que quer.
Seria mais fácil.
Seria menos dolorido.
E, então, não seria.


Naiana Carapeba (26/05/2011)

Desamor



O seu desamor não sinalizou sua chegada
O seu desapego apresentou-se de supetão.


E aos sustos, deixei-me levar
Aos prantos, deixei-me afastar.


De uma vez, cindi-me ao meio.
Separei-me, então, de nossas vidas - elas não existem mais.


O vento levou-as, em sua revolta.
As ondas tragaram-nas, em sua profusão.


Aguardo novas páginas serem viradas...
Aguardo nova estória ainda ser escrita, desta vez em tinta nanquim -
Definitiva.


Naiana Carapeba (26/05/2011)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Adam und Eva (Domenico Zampieri, 1620)

Recebi como um email, sem fonte identificada... 

Como Eva foi persuadida a comer a maçã...

POR QUE EVA COMEU A MAÇÃ?

Não foi assim facinho não!!!
No início, Eva não queria comer a maçã.
- Come - disse a serpente astuta! - e serás como os anjos!
- Não - respondeu Eva. Virando a cara para o lado!
- Terás o conhecimento do Bem e do Mal - insistiu a víbora.
- Cruzou os braços, olhou bem na cara da serpente e respondeu firme: Não!
- Serás imortal.
- Não! Já disse!
- Serás como Deus!
- Não, e não! Já disse que NÃO!
Irritadíssima, quase enfiando a maçã goela abaixo, a serpente já estava desesperada e não sabia mais o que fazer para que aquela mulher, de princípios tão rígidos e personalidade tão forte comesse a maçã.
Até que teve uma idéia, já que nenhum dos argumentos haviam funcionado...
Ofereceu novamente a fruta e disse com um sorrizinho maroto:

- Come, boba!!! EMAGRECE!!!!

FOI TIRO E QUEDA !!!!

terça-feira, 24 de maio de 2011

Já vai tarde...



Trocando em Miúdos

"Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim
Não me valeu
Mas fico com o disco do Pixinguinha, sim!
O resto é seu

Trocando em miúdos, pode guardar
As sobras de tudo que chamam lar
As sombras de tudo que fomos nós
As marcas de amor nos nossos lençóis
As nossas melhores lembranças

Aquela esperança de tudo se ajeitar
Pode esquecer
Aquela aliança, você pode empenhar
Ou derreter

Mas devo dizer que não vou lhe dar
O enorme prazer de me ver chorar
Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago
Meu peito tão dilacerado

Aliás
Aceite uma ajuda do seu futuro amor
Pro aluguel
Devolva o Neruda que você me tomou
E nunca leu

Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde".



(Chico Buarque - composição : Chico Buarque & Francis Hime)



segunda-feira, 23 de maio de 2011

Iceberg



Os dias se sucedem de forma intensa -
E sinto em mim todos os seus extremos.


O frio que me danifica a alma pela manhã -
Seu vento, a me rebelar os cabelos.
O calor tépido das tardes -
O sol a pino, que me faz suar por dentro.


Nas noites gélidas, contudo, 
a prova inconteste de que o inverno chegou de vez.
No inverno, nada acontece.
Apenas esse turbilhão cá dentro, a me consumir.


E, se em aparência, tudo está como dantes,
Sou como um iceberg - 
Em mim há apenas extremos, ocultos...
... Intensos.


Naiana Carapeba (23/05/2011)

Keep walking



A música ficou suspensa
E apenas acordes dissonantes se fizeram ouvir
Se a idéia era desconstruir-me, congratulations -
Efetivamente o conseguiu.



Keep walking - a slogan that may fits you so well.
But not me.
I won't keep walking anymore.
'Cause I've stopped here.
I'm done.


Às vezes, uma imagem diz tudo.
E para bom entendedor, meia-imagem basta...



But baby, do not worry.
Just keep walking...


Muitas vezes, não é preciso todo um mar,
Nem mesmo um oceano inteiro é necessário para afogar.
Às vezes, basta uma gota.


Keep walking.


Naiana Carapeba (23/05/2011)

domingo, 22 de maio de 2011

O tombo está no passo da bailarina



Seria tão fácil se todas as obras nascessem acabadas.
Mas, não. A história apenas se concretiza no seu desenrolar.
Os caminhos exigem o passo após passo.
A dança exige a música certa a tocar.


Mas nem sempre o ritmo que se propõe é o desejado.
Literalmente...


Não se esqueça, contudo, que as janelas que se abrem são as mesmas que fecham portas.
E que as frestas que permitem um vislumbre do paraíso são as mesmas que descortinam o purgatório.


O que fazer, então?
Interromper a caminhada, se a vontade é correr e correr -
E trilhar toda a trilha...
E encontrar o caminho certo.
E desvendar as estradas que se apresentam à frente, e ao lado, e atrás.
Dançar as músicas todas até o fim. Nota após nota. Em cada compasso...


E agora, o que me dizes?
Que o tombo não valeu o passo da dançarina?
E agora, José?
Agora, que a música cessou,
O que fazer se não há obras primas nesta história?
E, principalmente, como saber, se o espetáculo ainda não acabou?


Calma. Ainda é primeiro ato.


Naiana Carapeba (22/05/2011)

Surrealismo


Vivia uma situação completamente surrealista -
Sentia a destruição da racionalidade
E o formar-se do império dos anseios do meu subconsciente.

Os pincéis que escolheria para minha obra
Estavam postados à minha frente.
Suas cores, tão parecidas -
Mas em tons tão diferentes...

O que escolheria para gerar esta obra intimista?
A obra de uma vida inteira...

Não. Nem a lógica, nem a razão participaram deste embate.
Tive ímpetos de borrar a tela, em carmim ensanguentado,
Um coração derretido, em que a honra seguia subvertida
Os ditames da sua inconsciência...

Mas, amarrou-me as mãos
A formação humanista que me fez crescer. E apreender minha condição imanente ao utilitarismo.
E, então, tive ímpetos de desenhar um palácio renascentista -
com todos os seus traços equilibrados e simétricos.
E nele habitar, esquecendo-me dos novos significados
Que todo o meu cotidiano liberto poderia ter...

Ao final, nem obra, nem quadro.
Nada.
Apenas meu corpo em trapos
Mostrava-me todas as minhas impossibilidades...

Naiana Carapeba (22/05/2011)



sábado, 21 de maio de 2011

Bem-me-quer, Mal-me-quer



Bem-me-quer, Mal-me-quer
Arrancas-me minhas pétalas
Sem dó de mim...


Bem-me-quer, Mal-me-quer
Desfolhas-me aos poucos
Derretendo-me ao calor...


Bem-me-quer, Mal-me-quer
Vê que a beleza da flor reside em seus adornos
E deixa-me florir...


Naiana Carapeba (21/05/2011)

Os posts mais visitados