segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Miserere




Misérias, que nos aguardam ao abrirmos o envelope.
Misérias, que nos esperam do outro lado da linha.
Misérias, que nos olham do fundo do espelho.
Misérias, que nos perseguem com os punhos esticados.
As misérias que mais tememos...


Estaríamos sendo ceifadas?
Estaríamos sendo brindadas?
Estaríamos sendo punidas?


Então, por qual motivo as maiores penas atingem as pessoas que mais amamos?


Dar a cada um o que é seu.
Em medida de equivalência e equidade.
E, incrédulas, recebemos nossa parte, em misérias.
O grande prêmio...


Miserere, misero me,
però, brindo alla vita!


Naiana Carapeba (31/10/2011)

Metamorphosis of Narcissus



Narcissus,
in his immobility,
absorbed by his reflection with the digestive slowness of carnivorous plants,
becomes invisible.
There remains of him only the hallucinatingly white oval of his head,
his head again more tender,
his head, chrysalis of hidden biological designs,
his head held up by the tips of the water's fingers,
at the tips of the fingers
of the insensate hand,
of the terrible hand,
of the mortal hand
of his own reflection.
When that head slits
when that head splits
when that head bursts,
it will be the flower,
the new Narcissus,
Gala - my Narcissus



(Salvador Dali - 1937)

Ei, menina...



Ei, menina... E, agora?
Você vive seu verdadeiro amor?
Aquele primeiro, grande, magnífico, incomparável amor?
Agora que você mergulhou de cabeça, de verdade,
diga aqui (só para mim), se ele é mesmo tudo,
tudo aquilo que você sonhava...



Ei, menina... E, agora?
Você encontrou o que procurava? 
Agora que você desembrulhou o presente, fico curiosa:
Essa aventura está garantindo o mínimo de diversão para valer o título?


Ei, menina... E, agora?
Os dados foram lançados...
Mas, você ganhou o grande prêmio? 
Seria uma pena desperdiçar tanta juventude...
... com alguém que não merecesse você.


Ei, menina... 
Abra suas asas de borboleta.
E, percorra todos os caminhos. Todos.
Você merece tudo: não se esqueça disso.
Jamais.


Ei, menina...
Você ainda pode tudo.
...E, isso, isso não tem preço.
Você é o grande prêmio. Saiba disso.

Ei, menina...

Vou cometer uma inconfidência:
Eu gosto mais de você agora. 
Que você já sabe o que quer.
Viu? Era só estender as mãos... E pegar.


Tudo ficou mais fácil.
O tudo, agora, é nada.


Naiana Carapeba (31/10/2011)

domingo, 30 de outubro de 2011

Rolling in the deep



There's a fire starting in my heart
Reaching a fever pitch and it's bringing me out the dark
Finally, I can see you crystal clear
Go head and sell me out and I'll lay your ship bare

See how I'll leave with every piece of you
Don't underestimate the things that I will do

There's a fire starting in my heart
Reaching a fever pitch and its bringing me out the dark

The scars of your love remind me of us
They keep me thinking that we almost had it all
The scars of your love, they leave me breathless
I can't help feeling

We could have had it all
(You're gonna wish you never had met me)
Rolling in the deep
(Tears are gonna fall, rolling in the deep)
You had my heart inside of your hand
(You're gonna wish you never had met me)
And you played it to the beat
(Tears are gonna fall, rolling in the deep)

Baby, I have no story to be told
But I've heard one of you and I'm gonna make your head burn
Think of me in the depths of your despair
Making a home down there, as mine sure won't be shared

(You're gonna wish you never had met me)
The scars of your love remind me of us
(Tears are gonna fall, rolling in the deep)
They keep me thinking that we almost had it all
(You're gonna wish you never had met me)
The scars of your love, they leave me breathless
(Tears are gonna fall, rolling in the deep)
I can't help feeling

We could have had it all
(You're gonna wish you never had met me)
Rolling in the deep
(Tears are gonna fall, rolling in the deep)
You had my heart inside of your hand
(You're gonna wish you never had met me)
And you played it to the beat
(Tears are gonna fall, rolling in the deep)

Could have had it all
Rolling in the deep
You had my heart inside of your hand
But you played it with a beating

Throw your soul through every open door
Count your blessings to find what you look for
Turn my sorrow into treasured gold
You pay me back in kind and reap just what you sow

(You're gonna wish you never had met me)
We could have had it all
(Tears are gonna fall, rolling in the deep)
We could have had it all
(You're gonna wish you never had met me)
It all, it all, it all
(Tears are gonna fall, rolling in the deep)

We could have had it all
(You're gonna wish you never had met me)
Rolling in the deep
(Tears are gonna fall, rolling in the deep)
You had my heart inside of your hand
(You're gonna wish you never had met me)
And you played it to the beat
(Tears are gonna fall, rolling in the deep)

Could have had it all
(You're gonna wish you never had met me)
Rolling in the deep
(Tears are gonna fall, rolling in the deep)
You had my heart inside of your hand

But you played it
You played it
You played it
You played it to the beat

(Adele)

sábado, 29 de outubro de 2011

Amapola




Arranha sua pele,
em garras que o ferem,
segurando-o junto a si.

Sua presença de deusa,
cegando-o,
apesar do mero vislumbre de você.

Absolutamente inebriado, 
ele sorve seu buquê,
em goles magistrais que escorrem pela boca...

Naiana Carapeba (29/10/2011)

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Outra sobre vinhos e pessoas


Não me apetecem, em geral, os vinhos do Novo Mundo. Acho seus taninos muitíssimo agressivos. Desnecessariamente. Trazem em si uma rebeldia juvenil que, muitas vezes, nem o amadurecimento em barricas de carvalho é capaz de amaciar. O processo de vinificação já lhes deu tudo o que podem entregar. São simplórios, embora mascarem tal fato com sua intensidade desmedida. Servem apenas para trazer o paladar a nocaute.
Em regra, os vinhos do Velho Mundo me agradam mais ao paladar. Os vinhedos já estão maduros. O viticultor sabe o que vai colher, conhece o seu terroir. E o que vai produzir nesse encontro. Vinhos macios, cheios de personalidade. Nuances sutis perfumam seus aromas. Vinhos que evoluem com a guarda. Alcançam seu auge muito após a vinificação. E, para isso, é necessário estrutura - que, essencialmente, decorre de todo o processo de obtenção diferenciado de um vinho de guarda. Assim, não é possível transformar um vinho de linha de produção em vinho de guarda apenas deitando sua garrafa na adega. Não há metamorfose possível.
O  consumo deste tipo de vinho, porém, não é para todos. Não é apenas uma questão de preço. Não mesmo. O que é essencial saber é que esses vinhos não são imediatistas. Exigem espera. E, também, muitas vezes exigem decantação. Calma. Técnica. Perfeição.

Naiana Carapeba (28/10/2011) 

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Insone


Hoje, a noite não se deitou comigo.
O dia teima em me acompanhar.
E, mesmo na escuridão, há um sol perante mim.

Hoje, luas e estrelas brincam de se esconder.
Nuvens claras insistem em encobrir o horizonte.
E, na abóbada azul, não há mais qualquer calmaria.

Hoje, não houve interrupção.
Sequer pausas para repouso.
Insone, testemunhei sua morte.

Naiana Carapeba (26/10/2011)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Túnel do tempo I

Esse poema - que escrevi ainda em 1989 - foi resgatado graças à querida amiga Cinthia Uchôa, que teve a paciência e o carinho de guardá-lo até hoje... 





Lá, onde o tempo não existe, simplesmente por não sentirmos as horas passando.
Lá, onde as ondas do mar refluxam sem pressa
E o nosso sol nos aquece por dentro, fazendo transparecer todas as emoções, por estarmos juntos.
Num lugar onde não se pode amar, onde o nosso sonho acalentado seria concretizado.
E, na nossa existência, ninguém mais era necessário existir.

Naiana Carapeba
(em algum momento do ano de 1989)


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Miragem



Falaram-me de você.
Da sua arrogância,
da sua prepotência.
De uma maneira tão desagradável,
que, a princípio, eu quase não o reconheci...

Era outra pessoa me sendo descrita.
Com interesses tão discrepantes,
com imaginação tão fértil,

que, num primeiro momento, eu não o enxerguei na tela que me era pintada em cores tão intensas...

Falaram-me de você.
Longamente e com propriedade...
E, de repente, tudo fez sentido.
Num instante, vislumbrei o quanto de desrespeito,
o quanto de egoísmo, o quanto de individualidade houve.

Falaram-me de você.

E de tudo o que você falou.
Em bravatas que poderiam destruir tudo o que me é mais caro.
E, enquanto eu ouvia, percebi, de forma lamentável, 

que você apenas estava sendo você mesmo...

Por isso, vislumbrei porque nunca houve propriamente algo além de você.
Da sua vontade, do seu imediatismo, dos seus desejos sendo satisfeitos.

Sua imagem esvaneceu como pó.
Nunca houve nada além da miragem,
do assombro que segui até o fim do horizonte...
...apenas para ver dissolver perante mim.



Naiana Carapeba (24/10/2011)

domingo, 23 de outubro de 2011

Evolução



Mudam-se os gostos.
Mudam-se os interesses.
Em evolução, a vida acontece de forma diferente.


Um novo gesto.
Um novo apelo.
A sinergia que me atende responde por outro nome.


Atividades que me envolvem.
Músicas que me embalam.
Em ritmos intensos e renovados.


Evolução.


Naiana Carapeba (23/10/2011)

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Equações sem raiz



Qual o resultado de nossa equação?
Uma simples adição
trouxe em sua solução uma incógnita inesperada.


Não é impositivo, porém, encontrar todos os valores possíveis.
Não é sequer possível assim o fazer.


Estamos sujeitos a intempéries.
E, mais tempestades se avizinham,
mostrando toda a sua força
no horizonte carregado de tons cinza que nos acompanha.


Se é certo que o produto dos números só é igual a zero
se um dos fatores for também igual a zero,
em que conjunto residirá o elemento que nos anula?
A solução algébrica resolveria também a incógnita que nos paralisa?


Por enquanto, deixo a precipitação me envolver...
As áreas de risco sequer foram identificadas.
Seguem ocultas, como as incógnitas não resolvidas de nossas equações sem raiz.


Naiana Carapeba (21/10/2011)


Para quem não me conhece



"É bom o aviso:
a distância
é intransponível


para os gestos
para as vozes
e os nomes


Não contam os sacrifícios
caídos aos meus pés
as inscrições nos montes


Entre os pontos
que nos retêm
entre nós


nada vive ou respira
ou sente 
Tudo para


porque nada te pede
que vá ou fique
nada se perde


quando não se sabe
da tristeza da razão
dos frêmitos e dos fumos


de beijos secos
de uma terra seca, velha
de antes que nós existíssemos


nesse mapa
que ressoa ao fogo
mas é só papel."


(Alberto Bresciani in Incompleto Movimento)

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Produtividade



É preciso produzir.
É preciso.
Mesmo em minhas pausas.
É preciso produzir.


É necessário ser útil.
É necessário.
Mesmo quando não se pode mais.
É necessário ser útil.


Porque, ao final, o que conta são as faltas.
Não as presenças.
Porque, para você, não basta uma vida inteira de retidão.
Um único suspiro, uma pausa, faz tudo ruir.


Naiana Carapeba (20/10/2011)

domingo, 16 de outubro de 2011

Meu norte



Não sendo meu,
sempre me pertenceu.
Como se houvesse nascido sob minha égide.


Não sendo meu,
andou em meus sonhos.
Como se houvesse sonhado em meu travesseiro.


Não sendo meu,
alterou minha trajetória.
Como se houvesse desmagnetizado meu norte.


Naiana Carapeba (16/10/2011)

sábado, 15 de outubro de 2011

Casida of the Weeping


I have shut my balcony
because I don't want to hear the weeping,
but from behind the gray walls
nothing is heard but the weeping.

There are very small angels who sing,
there are very small dogs who bark,
a thousand violins fit in the palm of my hand.

But the weeping is an immense dog,
the weeping is an immense violin:
the tears muzzle the wind,
and nothing is heard but the weeping.

(He cerrado mi balcón
porque no quiero oír el llanto
pero por detrás de los grises muros
no se oye otra cosa pero el llanto.

Hay muy pocos ángeles que canten,
hay muy pocos perros que ladren,
mil violines caben en la palma de mi mano.

Pero el llanto es un perro inmenso,
el llanto es un ángel inmenso,
el llanto es un violín inmenso,
las lágrimas amordazan al viento,
y no se oye otra cosa que el llanto.)


Federico Garcia Lorca

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Metamorfose



Sob seus olhos vigilantes
acontece minha metamorfose.
Minhas pétalas caídas,
minhas asas ainda úmidas,
aguardam caladas o nascimento de uma nova hora.


Transmudando-me, conquanto no mesmo lugar,
não sou mais quem eu era.
Não sou mais quem eu sou.
Não mais.
Ainda sou?
Ainda eu?


Metamorfose, apenas.
Não é suicídio.


Naiana Carapeba (14/10/2011)

quinta-feira, 13 de outubro de 2011





É sempre igual,
a chuva na janela me faz lembrar nós dois.
É sempre o mesmo,
o frio que esfria o corpo é o mesmo que me aquece a alma.
É sempre assim,
um dia depois do outro...


Naiana Carapeba (13/10/2011)

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

What really matters



Pausei minha vida -
para olhá-la ao longe,

através da beleza que me cercava
em qualquer lugar que eu estivesse.


Pausei minha vida -
para perceber,
de forma concreta,
como amigos verdadeiros significam o mundo para mim.


Pausei minha vida -
apenas para retomar o fôlego,
e ser capaz de fazer tudo de novo,
tudo, tudo de novo.


Porque, caríssimo,
eu não desisto facilmente.
Mas eu realmente precisava recobrar minhas forças.


O que é realmente importante...
É nunca esquecer o que realmente importa.


Naiana Carapeba (12/10/2011)

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

I will survive



At first, I was afraid, I was petrified.
Kept thinkin' I could never live
Without you by my side,
But then I spent so many nights
Thinkin' how you did me wrong.
And I grew strong
And I learned how to get along.

And so you're back from outer space.
I just walked in to find you here
With that sad look upon your face.
I should've changed that stupid lock,
I should've made you leave your key,
If I had known, for just one second,
You'd be back to bother me.

Well, now go! Walk out the door!
Just turn around now,
'Cause you're not welcome anymore!
Weren't you the one
Who tried to hurt me with goodbye?
Did you think I'd crumble?
Did you think I'd lay down and die?

Oh no, not I! I will survive!
Oh, as long as I know how to love,
I know I'll stay alive!
I've got all my life to live.
I've got all my love to give.
And I'll survive! I will survive!
Hey, Hey!

It took all the strength I had
Not to fall apart
And trying hard to mend the pieces
Of my broken heart.

And I spent, oh, so many nights
Just feeling sorry for myself.
I used to cry,
But now I hold my head up high!

And you'll see me, somebody new,
I'm not that chained up little person
Still in love with you.

And so you felt like droppin' in
And just expect me to be free,
But now I'm savin' all my lovin'
For someone who's lovin' me!

Go now! Go! Walk out the door!
Just turn around now!
'Cause you're not welcome anymore!
Weren't you the one
Who tried to break me with goodbye?
Did you think I'd crumble?
Did you think I'd lay down and die?

Oh no, not I! I will survive!
Oh, as long as I know how to love
I know I'll stay alive!
I've got all my life to live.
I've got all my love to give.
And I'll survive. I will survive! Oohh..

Go now! Go! Walk out the door!
Just turn around now!
'Cause you're not welcome anymore!
Weren't you the one
Who tried to break me with goodbye?
Did you think I'd crumble?
Did you think I'd lay down and die?

Oh no, not I! I will survive!
Oh, as long as I know how to love
I know I'll stay alive!
And I've got all my life to live.
And I've got all my love to give.
And I'll survive. I will survive! I will survive!

(by Gloria Gaynor)

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