Há uma hora certa, no meio da noite, uma hora morta, em que a água dorme.
Todas as águas dormem: no rio, na lagoa, no açude, no brejão, nos olhos d’água, nos grotões fundos E quem ficar acordado, na barranca, a noite inteira, há de ouvir a cachoeira parar a queda e o choro, que a água foi dormir…
Águas claras, barrentas, sonolentas, todas vão cochilar. Dormem gotas, caudais, seivas das plantas, fios brancos, torrentes. O orvalho sonha nas placas da folhagem e adormece. Até a água fervida, nos copos de cabeceira dos agonizantes…
Mas nem todas dormem, nessa hora Muitos hão de estar vigiando, e chorando, a noite toda, porque a água dos olhos nunca tem sono…
Naiana, para algumas sensações nada basta não é mesmo? Talvez esse querer ser preenchido sempre é que nos impulsiona a acreditar que o melhor ainda está por vir. Adorei!
Alberto escreveu:
ResponderExcluirO SONO DAS ÁGUAS
Há uma hora certa,
no meio da noite, uma hora morta,
em que a água dorme.
Todas as águas dormem:
no rio, na lagoa,
no açude, no brejão, nos olhos d’água,
nos grotões fundos
E quem ficar acordado,
na barranca, a noite inteira,
há de ouvir a cachoeira
parar a queda e o choro,
que a água foi dormir…
Águas claras, barrentas, sonolentas,
todas vão cochilar.
Dormem gotas, caudais, seivas das plantas,
fios brancos, torrentes.
O orvalho sonha
nas placas da folhagem
e adormece.
Até a água fervida,
nos copos de cabeceira dos agonizantes…
Mas nem todas dormem, nessa hora
Muitos hão de estar vigiando,
e chorando, a noite toda,
porque a água dos olhos
nunca tem sono…
Guimarães Rosa
Nossa! Fiquei lisonjeada ao saber que um poema meu faz lembrar o grande Guimarães Rosa. Obrigada Alberto!
ResponderExcluirNaiana,
ResponderExcluirpara algumas sensações nada basta não é mesmo? Talvez esse querer ser preenchido sempre é que nos impulsiona a acreditar que o melhor ainda está por vir.
Adorei!