terça-feira, 13 de novembro de 2012

Obrigada


Ei, eu queria agradecer...
Por tantas bênçãos que, de pronto, não consegui identificar.
Apesar do preço vil que você pagou ao arrematar meus bens.
Obrigada por levar o meu bem...

Desculpe a demora da gratidão,
mas as lágrimas que me turvavam a vista
não me permitiram identificar imediatamente
quantas graças me presentearam com a ausência que você me proporcionou.
O tanto que ganhei com a falta que você me impôs.

No início, agarrei-me às pernas que me deixavam
- e lamentei e me arrastei e supliquei -  
entregando, como imposto, o meu sexo, o meu corpo e o meu desejo sonolento.
Em vão e inutilmente...

Em vão, mendiguei amor.
Implorei por tudo e tanto que deveria receber gratuita e voluntariamente.
Por migalhas.
Por quase nada.

E, por isso, eu queria realmente agradecer...
Pelo alívio que corroeu, no instante que você levou o meu bem, minhas correntes de escrava em perversa submissão.
E, então, livre e solta, reencontrei o desapego de quem ainda tem toda uma vida pela frente.
Recompus-me em leveza e frescor.
Finalmente, descobri que eu posso muito mais do que você...

Você...
Ah! Você...
Lançada a uma aventura cuja preço aviltante você ainda não pode quantificar.
Mas as escolhas foram feitas por você.
Elas residiam em suas mãos. Apenas em suas mãos.
E, nem mesmo a visão de toda a destruição que você iniciou,

impediu-a de invadir o meu campo, em  marcha marcial.
Iniciando batalhas que eu sequer imaginava existir...
Dando cabo a penas que não me permitiam progressão de regime...

Mas os dias se sucederam,
e eu pude vivenciar tantas bênçãos.
Agradeço por me permitir espantar o cotidiano tédio,
obrigando-me a espanar a poeira que me cobria inteira...
E a trilhar novas trilhas.
E a virar novas curvas.
E a descobrir novas estradas.
Reinventar-me, enfim.

Por isso, obrigada.
Você me libertou do ônus da oferta -
apesar da recusa certa e solene. 
Presenteou-me com liberdade,
e tantas e tantas novas oportunidades. 
Obrigada por levar o meu bem...

Sem ele, estou livre de amarguras -
e do peso imenso de uma âncora fundamente fincada no Cabo das Tormentas.
Obrigada por me libertar de mãos que me sufocavam a ponto de eu não mais perceber minha vida a se esvair tão lenta e continuamente...

Quanto a você, desculpe, mas não há boas notícias...
Eu sei o seu destino de cor.
E, sinto muito que eu possa dizer, de antemão,
que ele é muito menos glorioso do que supõe a sua vã filosofia...


Naiana Carapeba (13/11/2012)




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