(Imagem de Sebastião Salgado)
Sonhos se perderam quando nos afastamos.
Quando nos despedimos, mesmo sem o saber.
Sem o querer, talvez...
Foi num telefonema, se bem me lembro.
Você não podia, não queria me ver.
Preparava-se para sua derradeira fuga.
Aquela que o levaria, incondicionalmente, para longe de mim.
Depois deste adeus, muitas vezes nos encontramos.
Até conversamos, longamente...
Mas nunca mais houve um encontro de almas, como antes acontecia.
Como antes éramos um do outro, mesmo sem nos pertencer.
Eu hoje me perguntei quem empreendeu a primeira fuga.
Se foi você, em suas partidas sucessivas e ininterruptas.
Se fui eu, em minha paralisia emocional.
Repassei nossa história como filme, em slow motion...
E, percebi que, após as promessas de amor e de eternidade feitas, definitivas, praticamente invertemos nossas polaridades.
O que era atração, virou repulsa.
O que era unidade, virou solidão.
E o desejo de nós dois foi sepultado.
Virou nada.
Não houve dignidade no abandono.
Mas também não houve gritos.
Não houve súplica alguma.
Não houve.
Essa a verdade: não houve nada.
Em sua inércia, você meramente se deixou afastar.
Como um barco à deriva, que é carregado pelo oceano, tragado pela imensidão.
Caminho sem volta.
Viagem sem itinerário.
Perda...
O sal haverá de consumir nossos restos.
Ressecando nossa pele carcomida pelo sol.
Nos lábios, crostas de pele irão se soltar.
E sangrar até esvair o pouco de vida que ainda nos cabe.
Nos olhos, irão secar lágrimas tão salgadas como o oceano que o subtraiu.
E eu serei um cadáver no seu pequeno barco - sem salvamento, sem socorro.
Embarcação sem vela para me impulsionar, sob o vento que me açoitará sem piedade...
Defunto sem vela para me iluminar, nada será gasto com meus restos imortais...
E, então, o tsunami de emoções que ora me desafia a sanidade irá finalmente eclodir em meu oceano.
E ondas, e violência, e ritmos sem fim irão compor, para minha fuga derradeira, um réquiem em slow motion...
Não haverá repouso na minha eternidade.
Naiana Carapeba (03/11/2011)