segunda-feira, 11 de maio de 2015

A queda




Acreditei verdadeiro,
doei alma,
tremi desejo,
salguei entranhas.
Esperando você.

Uma música tocava na vitrola...
E seu corpo pesou, imenso, em mim.
Consumação...
Janela afora, caía uma chuva calada -
tal qual minha ingenuidade cadente.

Passeei por você.
Seus ombros.
Seu retrato.
Seus atos.

Sobre a mesa, a passagem comprada, seus sonhos espalhados.
Oportunidades se descortinavam em folhas acartonadas.
Mas, eu não estava ali.
Nada me fazia presente.

Eu não fui. Eu era ninguém. Ninguém.

Com a sua queda, esquecida e fria, segui seus rastros.
Estourei as bolhas da sua champagne no céu da minha boca.
Com a sua partida, nada. 
Nada. Nada. Nada.
Seu eco me chamava.
Vivi você no silêncio da sua morada vazia.
Sua ausência me queimou os dedos.
As paredes nuas. Feias.
E senti novamente a queda.
Você a desertar o meu corpo, 
seu silêncio cru nos meus ouvidos,
chamando sem parar...

Esperei você.
Fugido, horrorizado.
Fustigado.
Você só.
Caído.

Mas, novamente, o nada.

Agora, muros separatistas o aguardam.
Embora caídos, sua presença ainda impera.
E ajudarão a escrever nova história.
Novos. Novas. Novidades...
Novas quedas?

Eu. Só.
Eu. Sem.
Eu. Estanque.
Sem salgar minha carne.
Sem revelar minha história.
Sem sossegar minha pena.

Esperando você.

Naiana Carapeba 
(11 de maio de 2015)

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