segunda-feira, 28 de maio de 2012

Contra-mão



Detalhes tão insignificantes teimam em permanecer.
Insistem em reavivar nossa história já finda.
Ultrapassada, talvez...
São espinhos que me lembram o que ainda sinto.
Dores que incomodam - ainda que ao longe. 
Detalhes demonstram estar toda a vida na contra-mão.
Toda ela.

Tempestades me açoitam o corpo -
e permitem que eu aprenda novos passos de uma dança martirizante...
Tempestades me iluminam uma noite sem estrelas -
e permitem que eu vislumbre seus contornos,
afastando-se ao longe sob raios de cólera...

As marcas do tempo irão se pronunciar em minhas mãos solitárias.
Veias saltarão numa tentativa inglória de me fazer sentir novamente o sangue a percorrer meu corpo.
Em vão. Em vão...

Eu serei pedinte, mendiga de suas memórias.
Carregarei sobre as costas cobertores imundos
pela culpa que me cabe neste querer tão intenso. 

E, então, minha estrada em contra-mão me levará novamente a você.
O duro asfalto a me impulsionar, sem piedade.
Meus joelhos esfolados a me castigar, sem perdão...


Naiana Carapeba (03/11/2011)

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Mesquinha, eu?


Não posso concordar quando me define como mesquinha -
não mesmo.
Nunca economizei em amor com você.
Jamais poupei sentimentos:
entreguei-me inteiramente...
Não fiz concessões.

Ao sabor de nossos encontros, fiz-me sua.
Envolvi-me, completamente.
Em cada passo.
Em cada pensamento.
Todos, todos seus.

E, assim, em queda livre, desvencilhei-me de minhas amarras.
Desnudei-me de compromissos.
Libertei-me: para você.

Qual o quê!
Você seguiu o seu script.
Cada linha.
Cada frase que era esperada fora dita.
Sem economias.
Sem descontos.

Ao cabo, a mesquinha traída,
descabelando-se à beira da linha de trem,
no aguardo de uma viagem que jamais aconteceu.
Naiana Carapeba (24/05/2012)

terça-feira, 22 de maio de 2012

Retrovisor

foto de Izaura Cruz


Você não tem sequer idéia do quanto eu amei você.
Você não tem a mínima noção do quanto eu o adorava.


...


Olhando pelo retrovisor, porém, agradeço a sua decisão.
Sem você, eu trilhei outros caminhos -
fui capaz de me reinventar.
E, honestamente, eu me tornei uma pessoa muito, muito melhor.
Obrigada.


Naiana Carapeba (22/05/2012)

domingo, 20 de maio de 2012

Juventude liberta




Despedaço suas amarras e, com elas,
pedaços de você vão ao chão.
Destranco todas as portas e, ao abri-las,
sigo novos caminhos que me levam ao longe.
Minha juventude liberta não conhece limites.
Tenho à frente todos os meus sonhos a se realizar.

Naiana Carapeba (20/06/2012)

terça-feira, 15 de maio de 2012

Infância esquecida


A figura crua da noite silenciosa
agarrou-me com seus tentáculos úmidos e pegajosos.
Perseguiu-me nos meus sonhos bizarros,
em que se debatiam antigas lembranças...
Elas ora se esgueiram, ardilosamente,
pelos cantos do meu inconsciente.


Em minhas memórias de infância
há uma menina que me encara, muda.
Seus olhos lacrimejantes anseiam por cuidado...
Seus cabelos embaraçados e sujos denunciam ao quanto de abandono foi exposta...
Sua imagem explicita e apaga a necessidade de quaisquer outras palavras.


Naiana Carapeba (15/05/2012)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Ampulheta



- "Vem cá. Ah! E, pode trazer o seu cronômetro..." - um pedido assim, feito tão suavemente, quase num sussurro, desconsidera todas as nuances e as complicações que envolvem sua concretização.
Então, respondo: 
- Não é possível, caríssimo. Não mais.


O tempo cura.
Conquanto não tenha transcorrido tempo o suficiente para que eu esteja completa e definitivamente curada de si.
Tanto assim que estou cá, a considerar o convite, feito tão sem subterfúgios ou cerimônias...


Mas não sou senhora do meu tempo.
Nunca o fui.
Minha ampulheta resta em outras mãos -
conduzida, manobrada, governada de forma imperial,
sem minha interferência.
Gotas de areia escorrem, pingam sem cessar -
em grãos que me permitem pouco ócio, milimétrico espaço para dispor de mim, como eu queira...


Resta quase nada...
Minha âmbula, inerte em seu destino escorregadio,
secará definitivamente.
E, então, não se incomode em cronometrar minhas alegrias, agora.
Quando o puder, irei.
E, então, você ouvir-me-á rindo - ao largo, e sem economias.


Naiana Carapeba (11/05/2012)

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Estrangeiro


Sinto você, como a um estrangeiro -
Chegado de terras longínquas, as quais desconheço.

Enxergo você, como a um estrangeiro -
Em seus silêncios, em seus hábitos esdrúxulos, em sua monotonia dissonante.

Percebo você, como a um estrangeiro -
Seu rastro dissolvido no deserto de sua vida inóspita, insípida, cadente.

Despeço-me de você, como de um estrangeiro -
Desconhecido de feições sombrias, murmurando orações ininteligíveis, lançadas ao vento, sem direção.

Naiana Carapeba (07/05/2012)

domingo, 6 de maio de 2012

O tempo



O tempo a trouxe para trilhar comigo 
caminhos que se tornaram únicos,
que se fizeram em cada passo dado.


Juntas.


Porque há laços que são mais fortes que o sangue.
Porque há afeto que não exige, mas apenas entrega.
Porque há encontros que são verdadeiros presentes.


Parabéns, rabica...
Amo você.


Naiana Carapeba (05/05/2012)

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Désert


"Ils étaient les hommes et les femmes du sable, du vent, de la lumière, de la nuit. Ils étaient apparus, comme dans un rêve, en haut d'une dune, comme s'ils étaient nés du ciels sans nuages, et qu'ils avaient dans leurs membres la dureté de l'espace. Ils portaient avec eux la faim, la soif qui saigner les lèvres, le silence dur où luit le soleil, les nuits froides, la lueur de la Voie lactée, la lune; ils avaient avec eux leur ombre géante au cocher du soleil, les vagues de sable vierge que leurs orteils écartés, touchaient, l'horizon inaccessible. Ils avaient surtout la lumière de leur regard, qui brillait si clairement dans la sclérotique de leurs yeux".

 (J. M. G. Le Clézio - Désert) 

terça-feira, 1 de maio de 2012

Serenidade



Quando todos à sua volta estiverem insanos,
cultive a calma como o seu bem mais precioso,
pois dela irá precisar a cada passo do caminho.


Quanto todos à sua volta estiverem aos prantos,
lembre-se do poder incomensurável que há em seu sorriso,
pois ele irá suavizar as batalhas que a vida impõe a você.


Quando tudo, tudo parecer sem sentido algum,
relembre o início de sua trajetória,
pois sua vivência é fruto de cada escolha feita, desde sempre.


Assim é viver.


Naiana Carapeba (01/05/2012)

Os posts mais visitados