quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Último ato



Sinto-me como um filme,
em plena revelação.

Agentes reveladores me embebedam o corpo.
Minha alma.
Meu ser inteiro.
E tentam fixar uma imagem latente...
Ainda invisível, embora também essencial.

O trabalho, porém, segue em vão. 
Nada há a ser revelado neste filme.
A pose - que era toda para você, lembra? - ninguém viu.
O momento se perdeu.

Não se trata de incompatibilidade química.
Não havia necessidade de interromper o efeito revelador.
Não era necessário maestria para encontrar o contraste perfeito.
Ou apenas correto.
Não mesmo.

Essa a verdade:
Crua. Nua. Sombria.
O espetáculo, caríssimo, terminou.

Naiana Carapeba
(30/11/2011)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Sonhos em silêncio

O grito - Edvard Munch

Perdi-me em um deserto de palavras.
O silêncio e a cegueira me consumiram
qualquer possibilidade de contato com o mundo exterior.
Mergulhei em transe, ensimesmada -
uma pausa longa, em minha pulsação básica.
Nenhum acorde foi executado.
Minha melodia cessou.
E, o ritmo do vento que me envolvia, inteiramente,
definiu o andamento elástico de minha composição surda.


Apesar dos sonhos em silêncio,
as sombras em minha visão ainda me perseguem - 
em sua pinceladas largas, apesar de inseguras,
transfiguram meu quadro barroco em expressionista.
Cá estou.
Minha compulsão externada, mais uma vez,
na pintura de meus próprios tormentos.


Naiana Carapeba (28/11/2011) 

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Réquiem em slow motion


(Imagem de Sebastião Salgado)

Sonhos se perderam quando nos afastamos.
Quando nos despedimos, mesmo sem o saber.
Sem o querer, talvez...
Foi num telefonema, se bem me lembro.
Você não podia, não queria me ver.
Preparava-se para sua derradeira fuga.
Aquela que o levaria, incondicionalmente, para longe de mim.

Depois deste adeus, muitas vezes nos encontramos.
Até conversamos, longamente...
Mas nunca mais houve um encontro de almas, como antes acontecia.
Como antes éramos um do outro, mesmo sem nos pertencer.

Eu hoje me perguntei quem empreendeu a primeira fuga.
Se foi você, em suas partidas sucessivas e ininterruptas.
Se fui eu, em minha paralisia emocional.
Repassei nossa história como filme, em slow motion...
E, percebi que, após as promessas de amor e de eternidade feitas, definitivas, praticamente invertemos nossas polaridades.

O que era atração, virou repulsa.
O que era unidade, virou solidão.
E o desejo de nós dois foi sepultado.
Virou nada.

Não houve dignidade no abandono.
Mas também não houve gritos.
Não houve súplica alguma.
Não houve.
Essa a verdade: não houve nada.

Em sua inércia, você meramente se deixou afastar.
Como um barco à deriva, que é carregado pelo oceano,  tragado pela imensidão.
Caminho sem volta.
Viagem sem itinerário.
Perda...

O sal haverá de consumir nossos restos.
Ressecando nossa pele carcomida pelo sol.
Nos lábios, crostas de pele irão se soltar.
E sangrar até esvair o pouco de vida que ainda nos cabe.
Nos olhos, irão secar lágrimas tão salgadas como o oceano que o subtraiu.
E eu serei um cadáver no seu pequeno barco - sem salvamento, sem socorro.
Embarcação sem vela para me impulsionar, sob o vento que me açoitará sem piedade...
Defunto sem vela para me iluminar, nada será gasto com meus restos imortais... 

E, então, o tsunami de emoções que ora me desafia a sanidade irá finalmente eclodir em meu oceano.
E ondas, e violência, e ritmos sem fim irão compor, para minha fuga derradeira, um réquiem em slow motion... 
Não haverá repouso na minha eternidade.

Naiana Carapeba (03/11/2011)

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Incompreensão



Nada basta.
Nenhum esforço é o suficiente.
Minha presença é nada.
Nada.
Nada basta.


Sua incompreensão ronda meus dias.
E minhas noites.


Estou aqui.
Sozinha.
Como estive desde o princípio dos tempos...



Naiana Carapeba (01/11/2011)

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